7. O Plano de Pastoral é um instrumento de orientação, com o qual a Arquidiocese, “testemunha de Jesus Cristo na cidade de São Paulo”, explicita a sua referência fundamental a Cristo, Pastor, Mestre e Sumo Pontífice da Igreja, inteiramente devotado à glória do Pai e voltado para a salvação e a vida da humanidade.
8. A Igreja na Arquidiocese de São Paulo, “corpo missionário” de Cristo e testemunha do Reino de Deus, atenta e fiel à sua vocação e missão, sente-se enviada para esta Cidade, para lhe anunciar a Boa-Nova com palavras e com o testemunho da vida.
“Jesus Cristo é a fonte de tudo o que a Igreja é, e de tudo o que ela crê. Em sua missão evangelizadora, ela não comunica a si mesma, mas o Evangelho, a palavra e a presença transformadora de Jesus Cristo, na realidade em que se encontra. Ela é a comunidade dos discípulos missionários, que respondem permanentemente à pergunta decisiva: quem é Jesus Cristo? (Mc 8,27-29). O fundamento do discipulado missionário é a contemplação e o seguimento de Jesus Cristo. Como afirma o Papa Francisco, “a melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se nas suas páginas e lê-lo com o coração” (EG 264). Na comunhão eclesial, eles experimentam o fascínio que faz arder seus corações (Lc 24,32), e os leva a tudo deixar (Lc 5,8-11) e a viver um amor incondicional a Ele (Jo 21,9-17). A paixão por Jesus Cristo os leva à verdadeira conversão pessoal e pastoral (Lc 24,47; At 2,36ss)” (DGAE 2015-2019, 4).
9. O ensinamento do Papa Bento XVI, na sua Encíclica “Deus Caritas Est” (Deus é Amor), nos mostra a importância de pensar nossa ação pastoral, tendo os olhos fixos em Cristo, levando em conta sua prática e sua missão: “No início do ser cristão, não está uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (DCE 1). De fato, “a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele, que nos impele a amá-lo cada vez mais. Um amor, que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de apresentá-la, de torná-la conhecida, que amor seria?” (EG 264).
10. Toda ação pastoral não pode dar por suposto o encontro com Jesus Cristo, sem correr o risco de agir em vão. Assim, toda ação pastoral deve ter como ponto de partida e meta o encontro com Jesus Cristo vivo e ressuscitado.
11. Neste encontro, a iniciativa é de Deus e da ação do seu Espírito Santo, que leva ao encontro com Jesus Cristo. É Ele, Jesus, que quer se encontrar conosco. É Ele que nos procura pessoalmente para uma vida de amizade e comunhão conosco. É sempre Cristo que convida e, por isso, dá o primeiro passo. À pessoa humana sempre cabe a liberdade de acolher ou rejeitar a graça que o Senhor lhe concede. “Somente graças a esse encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade. Aqui está a fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu esse amor que lhe devolve o sentido da vida, como pode conter o desejo de comunicá-lo aos outros?” (EG 8).
12. A experiência de Paulo no caminho de Damasco é emblemática. Quando se refere a esse encontro pessoal com o Ressuscitado, Paulo fala de algo que o ultrapassa, que ele não foi capaz de produzir.
13. Paulo diz ter sido “alcançado por Cristo” quando o perseguia e nem pensava em se encontrar com Ele. Jesus entrou no seu caminho, mudando para sempre sua vida. Trata-se de uma graça estupenda, que só podemos suplicar e acolher com gratidão. Em Cristo e por Ele, Deus nos amou tanto, que assumiu a nossa natureza humana. Jesus Cristo se fez pouco... fez-se pão... tornou-se o Crucificado!
14. Cristo vem ao nosso encontro a partir da sua Encarnação: Ele, que, “sendo rico, se fez pobre para a todos enriquecer” (cf. 2Cor 8,9); “que armou sua tenda entre os homens, o Filho único do Pai, cheio de amor e de verdade” (cf. Jo 1,14); “que sendo de condição divina, não se fechou em si mesmo, mas se esvaziou, até a morte e morte de cruz” (cf. Fl 2,5ss) e, à diferença das aves do céu e das raposas, “não tem sequer onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20).
15. Jesus Cristo é incessante e eterna entrega, dom de si para o outro. É contínuo convite ao seguimento, em meio às diferenças e desencontros. O encontro com Jesus é acolhimento da graça do Pai que, pela força do Espírito, revela o Salvador e atua no coração de cada pessoa, possibilitando-lhe esta resposta.
16. A vida de Jesus foi um contínuo serviço e entrega pela humanidade. Assim, o serviço e a gratuidade também devem ser a marca da vida da Igreja e dos cristãos, pois discípulos missionários, em todos os tempos.
17. Serviço: Jesus, na força do Espírito Santo, vive em comunhão com o Pai e sua existência está voltada para os outros. Os muitos encontros de Jesus no Evangelho comprovam o quanto o outro é importante para Ele. Ninguém Lhe é indiferente. Todos recebem atenção. A partir de Cristo compreendemos a fraternidade que nos une: todos somos irmãos! A diferença do outro não pode ser motivo para afastar, mas para unir. O diferente torna-se sempre apelo ao encontro, ao diálogo, à partilha e ao intercâmbio de vida e solidariedade. A vida só se ganha na entrega: “Quem perder a sua vida, por causa de mim, a encontrará” (Mt 10,39).
18. Gratuidade: A existência de Jesus é graça e a sua lógica é gratuidade. Ele sai de si, vai ao encontro dos outros, nada esperando em troca. Gratuidade está na lógica do dom sem reserva, sem esperar retribuição. É a lógica do samaritano que ultrapassa todos os limites e medidas quando vai socorrer aquele que está abandonado à beira do caminho. Santo Agostinho, quando lê a parábola do bom samaritano, vê nele o Cristo que, descendo de sua cavalgadura divina, se debruça sobre a humanidade espoliada de sua dignidade e abandonada à beira do caminho, coloca vinho e azeite nas suas feridas e a confia à Igreja (hospedaria), prometendo recompensar todo o bem que lhe é feito.
19. Gratuidade e serviço são, portanto, modos de compreender o que há de mais decisivo em Jesus Cristo: a saída de si, rumo à humanidade marcada pelo pecado, fonte de dor e morte. Jesus nos mostrou que não se vence o mal com o mal (cf. Lc 11,14-22). O mal é vencido pela graça derramada abundantemente no coração das pessoas, pela efusão do Espírito Santo.
20. A referência a Jesus Cristo não se esgota na perspectiva do dom e do encontro, mas vai além e leva a identificar-se com Ele. Leva a colocar-se a serviço da sua tríplice missão messiânica de ensinar, santificar e pastorear, como paradigma para a vida e a ação da Igreja.
21. Na Carta Pastoral “Paróquia: torna-te o que tu és” (2011), lemos: “Na paróquia torna-se presente e se realiza a tríplice missão de Cristo – o anúncio da Boa-Nova, a santificação da humanidade e o serviço pastoral – que é a razão de ser da vida e da ação de toda a Igreja e também de cada paróquia. Jesus Cristo continua vivo e presente no meio daqueles que estão congregados em seu nome; e entre eles continua a exercer sua missão no mundo; não sozinho, mas contando com a participação de todos os seus discípulos missionários, aos quais concede a assistência do seu Espírito (pág. 9)”.
22. Com o 12º Plano de Pastoral, na fidelidade a Jesus Cristo, a Arquidiocese de São Paulo quer imprimir em toda ação pastoral a preocupação de servir a Cristo Profeta, anunciador do Reino do Pai e da Palavra da Salvação; Cristo Sacerdote, Mediador da Nova Aliança, que em seu Corpo reconcilia os homens com Deus e entre si; e Cristo Pastor, que dá a vida pelo seu rebanho.
23. Será, portanto, na fidelidade à pessoa e ao agir de Cristo, por obra do Espírito Santo, que a Igreja se tornará anunciadora crível diante do mundo. À medida que se configura com Cristo e se identifica com Ele, dócil à ação do Espírito Santo, a Igreja torna-se testemunha, sinal e presença d’Ele, entregando ao mundo o Evangelho que cura, transforma, salva e liberta aqueles que o acolhem. Em relação à credibilidade do anúncio da Igreja, não se deve esquecer que “a viga que suporta a vida da Igreja é a misericórdia. Toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia. A credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo. A Igreja vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia” (MV 10).
24. A Virgem Maria, perfeita discípula, é a imagem da Igreja que devemos ser: totalmente identificada com o seu Filho, Ela nos ajuda a sermos semelhantes a Jesus! Maria atua como educadora dos discípulos missionários que, à sua semelhança, se abrem totalmente à ação de Deus, podendo dizer como São Paulo: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,20; cf. DAp 269). “Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja: sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto” (EG 288).
- Urgências na Ação Evangelizadora e Pastoral
- 1ª urgência: Igreja em estado permanente de missão
- 2ª urgência: Igreja – Casa da iniciação à vida cristã
- 3ª urgência: Igreja – comunidade animada pela Palavra de Deus
- 4ª urgência: Igreja – comunidade de comunidades
- 5ª urgência: Igreja Misericordiosa a serviço da vida plena para todos
- 6ª urgência –Igreja: família de famílias